terça-feira, 28 de maio de 2013

Os PJs: A formação do Grupo

Mirumoto Nobunada. Tholen da Torre do Martelo. Hellen'ae Mooredriff. Yuuhi Midori.

Meliny
Por que Meliny? Bem, a facilidade que eu tenho em junta-los por melhor domínio do cenário. Um mundo de fantasia medieval, com um "inferno" bem explorado em "O Demônio interior II" e "Mystara: princesa Succubus", com um influente reino oriental, com conflitos entre rigorosos samurais e misteriosos seres com poderes absurdos. 
Particularmente, ando trabalhando bastante no modesto reino Doravânia, que é coincidentemente o mais próximo do orientalíssimo Wen-ha. 
CONSIDERAÇÔES::
Não só sistemas, como cenários diferentes marcam os quatro personagens. Curiosamente, Hellen e Tholen tem muito em comum. De campanhas alternadas em Forgotten. Decidi que havia uma ligação anterior aos dois. Os demais PJs dos outros colegas ainda existem... De forma "fusionada (como Nindrile) e etc. Outros, podem ser ajustado ao comportamento dos outros. Midori agiria exatamente como Faelar uma vez ajustado ao grupo.
 Hellen tem um segredo... Bem, não para quem jogou comigo ou acompanhou o diário. E também não para quem pega as não tão sutis pistas. Mas quero apresentá-la ao longo de uma série de contos. Partindo do princípio que ela viajou com o Flagelo de Vorbyx...


 Ah, sim. Alguns nomes tive que mudar por "direitos autorais. Nobunaga tornou-se Geen Nobunaga, que seria o equivalente ao clã Dragão de Rokugan (com o bônus de ser a família imperial no tempo do conto). E Não mais Tholen poderá ser chamado de "Flagelo de Vorbyx", uma vez deixado Faerum.
 O grupo de Nobunaga anterior permanece. Alguns nomes mudarão; outros se verão como mais próximos (Hida Fuji e Moto Lee são ambos adequaddos ao clã Tsé, enquanto a divina Shiba Maya seria uma Shorian inegável). Mas vou pincelando esse passado ajustado ao longo da série. 

Sem mais... que comece a loucura!

A nau de suprimentos cruzava as ondas solenemente. Trazia legumes e verduras de Borenia. Eram exemplares miúdos e tímidos, frutos de uma colheita prejudicada pela seca, imposta pela barragem nas nascentes daquele importante centro agrícola. Seu destino era a capital da Doravânia, Habênia. Mas com qualidade muito abaixo do desejado, seu destino seria as feiras do Porto das Comunas, e não as vultosas mesas de restaurantes da pérola costeira. E mesmo assim, certo que pechinchariam ao máximo para aliviar os mercadores daqueles produtos.

 Por isso, o casal que solicitou passagem foi mais que bem-vindo. Aventureiros perdem a noção de valores com o tempo, especialmente os bem-sucedidos. E por muito tempo, era o caso dos dois remanescentes.

 Hellen gostaria de cantar. Animar os marujos em sua ingrata função, de guiar um barco arruinado com produtos minguados. Mas deveria respeitar um certo tempo de luto. Era o "certo" a fazer. Saltava ás vistas uma humana de beleza fenomenal, longos cabelos lisos, cintura de vespa, e longas e torneadas pernas, visíveis nas aberturas da saia que he cobria à frente e atrás. Completava o conjunto com um corselete de couro, reforçado, mas ao mesmo tempo ornado, indicando que foi mais pensado na apresentação do que no combate. Ela olhava com tranquilidade seu companheiro de viagens.

 O grande escudo-torre quase cobria totalmente o anão. Era baixo, mas vigoroso. Mesmo para os padrões do Povo Robusto. Se Hellen era um encanto, que mesmo em silêncio seria convidativa aos transeuntes para trocar palavras, mesmo o respirar de Tholen Hammertower parecia um cão bravo a rosnar. Ao alcance de suas mãos, o pesado Martelo dos Ogros da Neve, chamado de "Flagelo". Uma arma encantada de um antigo regente ogro, o primeiro grande prêmio do anão em combate. Nas mãos de um combatente especialista, o Flagelo era uma devastadora arma. E Tholen nasceu basicamente com martelos de guerra pesados ás mãos. Seus bigodes e barbas maltratadas pelas andanças e lutas constantes davam a ele um ar de bárbaro, mesmo sendo ele um talentoso mercenário, e destemido lutador.

 - Você não parece muito triste. - resmunga Tholen. Ele não fazia contato visual, mas Hellen sabia que é com ela que lhe falava.

 - Já você... - retruca singelamente a feiticeira. - Pensei que não gostava da "elfa"...

 A "Elfa". Nindrille. A companheira de viagem do grupo, a segunda a ser abatida. O motivo para os dois aventureiros rumarem para a capital da Doravânia.

 - E não gosto!... Não gostava. - retruca Tholen, voltando-se para Hellen. - Primeiro: Porque era um elfo. Segundo: Porque era elfo drow. Terceiro: Porque insistia em não me deixar fazer o que faço de melhor.

 - Clérigos de Nivee... Fazer o que. - ri a feiticeira... Impróprio essa alcunha, mas cabia ao disfarce da aventureira.

 - Eu estou chateado comigo mesmo. Quando um de vocês cabeças-de-brague caem é porque eu não fiz meu trabalho direito. Mas não mude de assunto: Você foi a última a vê-la com vida, e não parece sequer abalada!

 Hellen via o teste do anão em suas palavras. Ha pouco tempo sua verdadeira natureza havia sido exposta, e pela confiança - ou indiferença, no caso de Tholen - foi-lhe dado um voto. E agora, o guerreiro testava.

 - Sim, Nindrille morreu. - fala casualmente Hellen. - Era minha melhor amiga nesta terra, e entendia o que eu passo. Se eu quisesse fingir sentir pena... Bem, você me viu infiltrar na legião dos Kzarianos... Eu não precisaria esforçar sequer para convencê-lo do que eu quisesse, querido. Minhas “lágrimas de crocodilo” são perfeitas.

 O anão estranha a resposta. Discretamente, sua mão desliza para mais perto do cabo do martelo de guerra.

 - Você sabe de onde eu vim, Tholen... - fala, após suspirar, olhando para os céus. - Eu tenho certeza que a causa de nossa amiga era justa, e que ela foi recolhida ao lado da sua deusa. Mas se os "elfos-do-sol" estavam certos... Se ela, como todo o Drow, estava “mancomunada com deuses negros”, estará com seus familiares. A morte... É uma bela forma de encerrar. Vocês mortais são favorecidos neste aspecto. Quando eu morrer... Acabou-se.

 - Nunca imaginei alguém sendo tão ... Egoísta. - resmunga Tholen. - Mas... Eh, né? Parece o certo para "sua laia".

 Hellen'ae sorri para o anão, mesmo sabendo que o gesto seria perdido.

 Meras formalidades.

 Ghunter, o primeiro do grupo a morrer, era o ideal. O "príncipe nômade" era o expoente mais indicado para um líder do grupo. Aventureiro promissor e destemido... Esse desprendimento, seu próprio heroísmo o levou à ruína, mesmo com os esforços de Tholen ao seu lado na batalha.

 Realmente, de "membro descartável", o Anão tornou-se muito valioso para Hellen. Podia contar com sua palavra de honra, mas ele não fazia grandes distinções entre bem e mal. Podia não gostar de ninguém - mesmo ela própria - mas estaria lá pelo grupo.

 Nindrille... Bem, só poderia haver uma "abelha-rainha" na colméia.

(...)

 O cristal flutuava pelas ondas. Uma mais alta projetou-se da superfície e chegou a alcançá-lo, mas o losango róseo não se deteve. Ao longe, o saveiro que se afastáva da costa wenhajin, origem do cristal. Que flutua até a linha da praia. De lá, a estreita mata antes dos rochedos, á sombra de galhos carregados das pétalas rosas, que dá a Wen-ha o título de "terra das cerejeiras". E enfim, à mão.

 O Wenhajin de porte esguio e trajes azulados era acompanhado de sua subordinada, uma guerreira. Ele ergue a mão, e toca o cristal brevemente.

 Com o toque, a mensagem é passada.

 - O barco está retornando. - fala enfim o líder de azul. - O hatamoto não percebeu nada, e só perceberá quando for tarde demais.

 - ... E?...

 Renai sabia o que a guerreira queria saber. A informação extra que exigia do membro infiltrado da sua aldeia. Mesmo conhecido por ser "piedoso", um pouco de tortura não lhe é estranha. E essa tortura era a demora em responder.

 - E... Ele mandou dizer que está se alimentando e que te ama.

 Inagami, a guerreira, a mãe, sorri.

(...)

 Tholen e Hellen desembarcam no Porto das Comunas, a "porta de entrada" de Habênia. O pier era alongado, indo mar adentro, mostrando-se adequado para embarcações maiores atracarem. As palafitas eram robustas e as tábuas do píer eram longas o bastante para grandes carretas receberem contêineres e pesos. Desnecessários à barcaça boreniana, mas por conta de safras mais vistosas de tempos anteriores à guerra, o capitão tinha privilégios de ancoradouro do prático.

 Mesmo sendo o "porto do povo", a vista recuada era um privilégio. Habênia era um belo balneário, mesmo antes de ser a capital da Doravânia. O grande distrito chamado de "porto das Comunas" ia além da margem portuária, e envolvia quase todo o comércio mundano. Seus prédios eram baixos, e a área dele era plana, quase sempre ao nível do mar. Isso dava destaque ás zonas mais elevadas, que era a "cidade funcional". O Bairro do "Coração", e uma parte das rampas acidentadas que formam o distrito "Saudosas colinas". Ambos de bela arquitetura. Coroada, no ponto mais elevado, pelas torres do Palácio Doravan, lar da família real. Sede administrativa do reino.

 - Estalagem ou Taverna? - resmunga Tholen. O anão, sempre que disposto, falava da sua terra natal, a "Torre das Armas", uma obra de arquitetura anã. Monolitos esculpidos ao longo de um século pelos talentosos membros de sua comunidade. Assim, por mais grandiosa que fosse a paragem forjada por humanos ou elfos, Tholen torcia o nariz e ignorava.

 - Sério que não quer esticar as pernas... Conhecer a cidade? - Perguntava animada a acompanhante.

 - Eu só preciso conhecer a Taverna. - Resmunga o anão. - E de preferência, as tavernas com bebidas fortes.

 - Não quer que eu ajude com a carga?

 - Não. - Thonlen sacode vigorosamente a cabeça. - Quando for hora de vender o espólio dos elfos-do-sol, você assume. Lábia é contigo... Cerveja, comigo. - O anão deslocava-se com certa morosidade, mas sempre constante, não importava o quando carregasse. Trazia além dos pertences de Hellen'ae e seu arsenal pessoal, o saco de truques de Nindrille abarrotado com tudo o que tirou da "Ordem dos Elfos do Sol", uma facção élfica de adoradores de Sargan, que declarou guerra aos Drows, independente de serem bons ou maus. Por semanas, eles seguiram o grupo por causa da presença de Nindrille. Então, em uma noite inesperada, quando Tholen estava longe, o grupo cercou a arqueira drow. Hellen estava presente, mas não foi capaz de detê-los, até o anão juntar-se a ela na luta.

 Sem a Drow, ao menos, aquele bando estaria fora da lista de problemas do grupo. Ainda assim, reduzidos a dois, as andanças seriam complicadas. O objetivo era encontrar uma nova companhia aventureira.

 Enquanto Tholen era rabujento e objetivo, Hellenn'ae era espairecida e encantadora. Era tão empática quanto talentosa nas interações sociais, com grandiosos e abstratos planos. E seu olho clínico buscava oportunidades onde pudesse. E ainda naquele porto, a oportunidade lhe apareceu.

 - Tholen... Olhe lá.

 Hellen apontava um saveiro, um barco de pesca com proa a meia-lua. Era consideravelmente grande, normalmente indicando potencial de pesca oceânica. Estava, naquele momento, ancorando em um píer alongado, vizinho ao qual eles andavam no momento.

 - A-ham. - Tholen deu com os ombros.

 - Olhe a tripulação... - aponta a feiticeira. - Seis marujos, e vinte ... Olhe lá! - repetia freneticamente.

 Os exóticos tripulantes - Tholen não pode constatar se eram mesmo vinte, mas pelo volume de cabeças era uma aproximação crível - eram homens de armas leves, com corseletes de couro em loringas, adornado com seda, protegendo do frio. Eram todos idênticos, tal qual um uniforme.

 - Aquilo é seda Wenhajin... - sussurrava Hellen'ae. Se tinha alguém capaz de identificar tecidos a trinta metros de distância, esse alguém era ela. - Eles marcham regularmente. Aquilo...

 - É um exército regular. - resmunga Tholen. - Eu não sou um acéfalo, sabia?

 - Certo, "não-acéfalo"... - brinca Hellen, dando um peteleco nas barbas dele. - Então, o que está errado nesta cena?

 Tholen olha duramente. Faz algum esforço mental. Detestava reconhecer suas limitações.

 - Isso mesmo. - Interrompe Hellen. - Não é uma mera guarda pessoal ou mercenários. São soldados Wenhajins.

 - Do reino-ilha do oriente?

 - Exato. - Hellen leva os dedos ao queixo. - As roupas e armas não parecem gastas. E nenhum reino deixaria um bando invasor entrar em sua capital assim... Eu chutaria que é uma comitiva diplomática...

 - Provavelmente é isso... - fala Tholen. - Mistério resolvido... Vamos beber.

 A feiticeira não tinha concluído ainda.

 - Tanto as embaixadas quanto os convidados do reino atracam no Porto Real, do outro lado da ilha. - Hellen era bem entendida sobre os reinos de Meliny. Conseguia puxar da memória o que estudara sobre as capitais, incluindo a distribuição social da capital insular doravaniana.

 - E... Que comitiva usaria um saveiro? - resmunga Tholen, entrando no jogo. - Ah, não me diga que...

 - Creio que vamos saber logo... - Hellen já ignorava a rabugice do colega àquela altura.

(...)

 Hellen e Tholen acompanharam quando um quarteto destacou-se do grupo principal. Perceberam alguma comoção quando misturaram aos transeuntes do porto para observar os exóticos visitantes. Tholen não entendia "o que" faziam, mas sabia que Hellen era uma caçadora de aventuras e experiências. Desde conseguir convite para bailes de famílias ricas de cidades onde o grupo pernoitou a grandes festejos de tavernas, ela sempre estava ocupada. E arrastava todos consigo.

 Os dois cogitaram dividir-se quando um destacamento partiu para terra firme. Mas optaram por seguir junto os quatro batedores wenhajins. Hellen era discreta e habilidosa para fazer "sombra", mas em ruas caóticas como aquelas, o barulhento Tholen passaria por mais um na multidão sem dificuldades. Um deles parecia o líder, trocava palavras com pessoas ao passar. Os que respondiam gesticulavam direções. O Wenhajin agradecia, e os quatro seguiam.

 Enfim, após algumas ruas tortuosas, os quatro encontram o que procuravam. Um prédio baixo, mas amplo, com barulho de movimento de seu interior. Na soleira da porta, pendia uma placa: "Paella Rala".

 - Uma taverna?!? - resmunga Tholen. - Eles devem precisar de bebidas mais do que eu.

 - Eles não vieram pelo ambiente. - ri Hellen, excitadamente batendo a ponta dos dedos. - Eles vieram contratar!

 - Trabalho? - resmunga Tholen. - Eu nem bebi ainda!

 A dedução de Hellen estava acertada. Mas não era tão absurda de se chegar. Aventureiros em busca de missões reúnem-se em tavernas por toda Meliny, mesmo em reinos mais reservados como Wen-ha.

 "Paella Rala" era um restaurante moderado, mas com um bar amplo, o qual, era a principal fonte de moedas. a freguesia prioritária eram os beberrões do porto e os desocupados da cidade, mas aventureiros a procura de trabalhos ou boatos tinham sua respeitosa parcela. Hellen e Tholen provavelmente iriam acabar naquele lugar, ou em estabelecimento parecido.

 Um "mural de recados", prática comum para terras com aventureiros, estava esposto singelamente na entrada. Mas a Doravânia era uma terra em guerra, a despeito do que parecesse na isolada e paradisíaca capital. Assim, o mural tinha mais "procuras" do que ofertas. E para piorar, o Melinês comum não era a língua materna dos soldados agora amontoados, tentando lentamente decifrar aquilo.

 Hellen'ae aproveitou a confusão. Um de seus talentos natos - raros mesmo dentre os de sua raça - era a leitura da mente. Pensamentos superficiais eram ouvidos como se falassem em voz alta. Tholen reconheceu os olhos fixos, quando ela não precisa disfarçar o uso de seu talento. Ele não se sentia confortável com meios escusos como aquele, mas não o suficiente para ter qualquer peso na consciência.

 Enfim, o tenente do grupo destaca-se. Ele primeiro olha na multidão. Parecia procurar alguma coisa. Concentra os olhos em um grupo desalinhado numa mesa afastada. Usavam armas e ostentavam armaduras, mas seu interesse esvai. Enfim, o desajeitado estrangeiro decide fazer uso da voz.

 - Mago! - fala ele. - Procuro um mago! Contrato um mago!

 Seu sotaque acanhado é ignorado ante a barulheira normal da taverna. O tenente estava definitivamente desconfortável com a cultura local para compreender o procedimento daquelas terras. Mas felizmente, alguém os mapeavam a tempo.

 - Eu sou o mais próximo que vai achar de um especialista, senhor. - Tholen espantou-se. Mal se distraíra, Hellen aproximou-se do tenente, e falou com um wenhajin impecável. Ela parecia extremamente solene, com o olhar baixo e as mãos unidas.

 O Wenhajin olhou a fêmea de cima a baixo.

 - Você não se parece com um usuário arcano. - retrucou igualmente em Wenhajin. - Mas me parece uma boa pessoa. - Havia uma aura sobre a feiticeira que a tornava um magneto social.

 - Perdoe esta humilde serva. - Completa Hellen. Por mais alma livre que Hellenae fosse, ela podia se desdobrar como um verdadeiro camaleão social, e sabia que a questão de gêneros em Wen-ha era muito mais sensível do que no resto do continente. - Eu sou Hellen'ae Mooredriff, e creio que os deuses nos colocaram em seu caminho para iluminá-lo.

 O tenente uniu as mãos igualmente e maneou a cabeça. Não se curvou, mostrando que ainda se julgava superior. Mas estava satisfeito.

 - Peço que nos siga, Mestra Mooredriff. Meu amo tem negócios para você.

 A feiticeira quebra a formalidade, piscando para Tholen positivamente.

 - Por favor... - responde ela, em Melinês. - Pode me chamar de Hellen.

(...)

 A presença de Tholen foi estranhada pelo quarteto, mas o anão simplesmente juntou-se a Hellen'ae sem sequer trocar palavras com ela. Acabou não sendo impedido, embora estivesse constantemente sob o olhar atento dos três subalternos de Akashi, o tenente de guarnição.

 - Meu senhor é um homem importante. - fala ele, quando se aproximava. - O Glorioso provavelmente só solicitará uma consultoria. Mas se ele quiser que o siga, vocês o seguirão. Senão, melhor nem vir comigo.

 - Tudo tem seu preço, humano. - rosna Tholen

 - O oni peludo está dispensado. - retruca, demonstrando quanto insatisfeito estava com o anão. - O Glorioso possui as melhores espadas do reino.

 - Mas não um martelo arrancador de dentes. - O anão adiantava o passo, provavelmente para tomar a frente do tenente e afrontá-lo cara a cara.

 - Tholen estará aqui por mim. - adianta Hellen, detendo o avanço do anão, mas sem perder a compostura. - Mesmo o seu glorioso hatamoto segue com aqueles a cobrir-lhe... O que dirá uma humilde arcanista como eu...

 Akashi fingiu ignorar a provocação contida do anão. A presença de Hellen era inebriante. Em outro tempo, Tholen seria uma minoria no grupo, deixaria que tratassem democraticamente com os contratantes. Mas com eles reduzidos a dois, sua opinião forte tinha muito mais poder.

 - Cada uma que me fala... - rosna o anão. - "as melhores espadas do reino"... Já vi elfos com mais carne no braço que esses baixinhos de pijamas.

 - Tholen... Esta é a Guarda Vermelha. - explica Hellen. - São esgrimistas de segurança pessoal, oficiais em treinamento. Creio que não eram eles a quem Akashi se referia.

 - Ah é? - ri Tholen com escárnio. - E quais seriam "as melhores espadas do reino"?

 - As minhas.

 O grupo é surpreendido. O impaciente mestre encontrou-os no meio do caminho. Era um jovem adulto alto e esbelto, com traços orientais. Usava elegante roupão de viagem das cores verdes com detalhes em dourado, e trazia um daichô – conjunto de espadas, uma Katana e uma wakizaki - à cintura, amparado pela faixa de condão e pela mão esquerda firme. O quarteto cessa a marcha e põem-se de joelhos ante Geen Nobunaga.

(...)

 "Hatamoto", os aventureiros souberam, era uma posição de grande prestígio no clã regente wenhajin. O equivalente a general em tempos de guerra. Geen Nobunaga era o "hatamoto da lâmina". Era instrutor esgrimista do exército imperial. Respondia a homem nenhum exceto o Shogun.

 Em suas terras, Nobunaga era um guerreiro famoso. Não só com a espada, mas com poesia. Foi campeão de hai kai / Haiku de um grande torneio de Akiobara, e no quadro geral, somado seus talentos marciais e sociais, foi o segundo colocado. Fato que rendeu o cargo de prestígio que possuía agora.

 A cabine do capitão do saveiro foi ajustada às peculiaridades do nobre. Capitães tendem a ser figuras de alto grau de orgulho. A tolerância dessa excentricidade indicava que Nobunaga fez por onde: em ouro ou em respeito.

 Ainda assim, o aposento sem mobílias exceto tatames e uma discreta mesa baixa, com incensos disputando espaço com o cheiro natural de uma barcaça pesqueira, cabia somente três indivíduos. Akashi, o tenente, permaneceu no vão de entrada, como se defendesse seu mestre. Hellen, habilmente, acompanhou os movimentos de Nobunaga, ajoelhando-se com os calcanhares semi-cruzados.

 Tholen até tentou, mas suas juntas duras e membros curtos tornavam a formalidade impossível, então, permaneceu de pé. Qualquer um mais alto que o membro de maior estirpe, na cultura wenhajin, estava em ofensa. Mas Nobunaga era paciente ao entender que não lidava mais com seus patrícios.

 - Sinto muitíssimo em não oferecer um chá. - começa o hatamoto. - A embarcação é menos que satisfatória, embora necessária.

 Tholen agita a mão sobre o que parecia ser uma mosca. Ouvira dizer que não havia moscas em Habênia... Mas aparentemente era outra mentira humana.

 - Perdoe a ousadia, Nobunaga-sama... - interfere Hellen. - Mas tememos sobre a natureza de subterfúgio de seu intento neste reino. Perdoe-me a ressalva...

 - Dobre sua língua caluniosa, mulher! - urra Akashi, de sua posição afastada.

 - Deixa os adultos conversar, ô serventia. - Tholen move seu obtuso corpo à frente do samurai.

 - Akashi... Chega. - Nobunaga não eleva a voz, mas consegue colocar seu subalterno em postura tranquilizante, mais que as ameaças de Tholen. - Ela está errada sim, mas teve seus motivos. É óbvio a qualquer observador, mesmo não crendo em minha identidade, ver que este barco pesqueiro foi improvisado.

 "Tenho a minha disposição uma barcaça imperial, senhorita". - Começa a narrar o wenhajin. - "Esta devidamente ancorada no Porto Real. Eu compareci a pedido do Shogun-imperador em um evento diplomático, que por hora, não deve ser debatido fora das salas de trono dos regentes reconhecidos ao trono dos Deuses-dragões. Eis o motivo da Guarda Vermelha me acompanhar. Minha missão diplomática acabou semanas atrás... Mas na falta de um diagnóstico melhor... Direi que me encontro amaldiçoado".

 - Amaldiçoado?!? - Tholen arrepia-se. Não costumava a ser supersticioso... Mas em uma de suas aventuras sofreu algo parecido com "maldição".

 - Akashi, meu tenente, também é um capitão competente. E a Ilha está a menos de um dia de viagem. três ou quatro dias, se contornarmos para alcançar as terras do shogun-imperador... Mas desde o fim de minha missão, sempre que lançamo-nos no mar, não encontramos as terras. Acabamos sempre, de uma forma ou de outra... Retornando a Habênia.

 - Tentou trocar de capitão? - perguntou Hellen. Akashi poderia sentir-se ofendido, mas o assombro era tanto que não parecia insultado.

 - Sim... E o mesmo ocorreu. O mais bizarro: em uma tentativa-e-erro, Akashi assumiu a capitania da embarcação e partiu uma quinta ou sexta vez em direção a nossa terra... E enfim conseguiu alcançar a costa de Wen-ha.

 - E o que tinha de diferente desta vez? - perguntou Tholen.

 - Eu não estava a bordo. - retruca Nobunaga. - Empenhamos este saveiro do porto das comunas, e parti em total segredo. Ainda assim, tanto Akashi quanto o proprietário da embarcação deram instruções claras e inequívocas. Os marinheiros, alertados para em advento de coisas estranhas confrontar mesmo seus senhores... E amanhecemos de volta ao Porto das Comunas.

 A narração é abruptamente interrompida por Tholen, batendo com a manopla na parede de lenha do barco. Tentava matar a mosca mais uma vez. Nobunaga começava a se irritar com o anão, e Hellen percebe.

 - Eu tenho uma teoria, senhor. - adianta ela. E a meu ver, teve muita sorte.

 - De encontrar você? - espanta-se o wenhajin.

 - De encontrar Tholen, mais precisamente.

 - A mim? - mesmo o anão parecia surpreso.

 - Prefiro não falar abertamente o que eu penso... Mas eu teorizei sobre o que acontece com seus capitães. Um efeito mental... Sou ligeiramente entendida neles. Posso afirmar que Tholen é a pessoa ideal para a capitania... Veja, ele é membro de uma raça chamada "anã". Suas mentes são protegidas contra efeitos como os que descreve.

 - Não parece uma boa ideia... - resmunga Tholen. - E eu não sei navegar...

 - Siga minha deixa, meu amigo. - interrompe Hellen, falando no idioma anão. Depois, continuou em comum. - Tholen pode muito bem ler uma bússola, ou reconhecer o sol. Se ele for a autoridade máxima, poderá prevenir mudanças de rumo grosseiras como esta. Mas de qualquer maneira, eu seguirei com o senhor... Humildemente, investigarei a origem sobrenatural de sua suposta maldição.

 Nobunaga olha com renovada admiração para o robusto guerreiro. Mesmo assim, apressa-se a se por de pé, e não mais aguentar alguém o olhando de cima para baixo.

 - Posso cobrir valores mais do que razoáveis que solicitarem...

 Hellen faz o movimento de curvar-se.

 - Sua amizade é o que nos move, Nobunaga-sama.

 - Ela não fala por nós dois... - Retruca Tholen.

(...)

 - Certo... - resmunga posteriormente Tholen. Hellen e o anão ganharam um compartimento de carga seca como aposentos provisórios enquanto uma nova jornada era preparada. - O que você está pensando, fofinha?

 - Como assim?

 - Primeiro... Você estava lá quando o abolete me transformou em “isca-reversa”... Eu aguento mais que a maioria, mas não sou imune a encantamentos. E você sabe disso.

 - Você estava fazendo muitos inimigos, Tholen... - Fala ela com leveza, enquanto escrevia algo intraduzível aos olhos do anão. - Eu não queria que o expulsasse desta aventura, meu querido... Agora, você é parte essencial da equipe.

 Tholen parecia ofendido... O que indicava que ele acreditou.

 - E o papo de "sua amizade"?

 - Lorde Nobunaga é consideravelmente próximo de uma realeza wenhajin, e é também um nome grande em aventuras. É um bardo e aventureiro de espírito. Se fizermos um grande favor para ele, conquistarei a fama que busco como aventureira. isso nos dará o acesso para que o busquem... E ouro? Nem temos como gastar nosso espólio atual. Como aventureiros famosos, podemos leiloar nossos serviços, não concorda?

 - Sei não... - pondera insatisfeito o anão. - Eu definitivamente não gostei do cabeludo com olhos puxados. Quase tanto quanto do vermelhinho do Achati...

 - Akashi... - corrige a feiticeira. - De qualquer forma, vamos limitar nossas conversas privadas à mente de agora em diante, certo? Falar em seu idioma nativo pode ofender nossos sensíveis anfitriões.

 - Como assim? - estranha Tholen. Sabia que sua colega podia ler pensamentos superficiais e transmitir os próprios ha consideráveis distâncias.

 - Eu não acreditei muito na história de maldição... Mas penso em sabotagem...

(...)

 A Guarda Vermelha é uma força militar diplomática, não o exército regular. Ainda assim, era um dos encargos de Geen Nobunaga orientá-los na arte da espada. Um dia, os melhores deles servirão como oficiais, guerreiros, e mesmo embaixadores eles mesmos... Mas naquele momento, o corpo de disciplinados jovens não estavam prontos para reagir a uma emboscada.

 Saisho percebeu tarde demais a armadilha. Pode ver nos olhos o seu inimigo, mas jamais sacaria sua arma. Quando enfim libertou-se, soube que a comitiva de Nobunaga já estava no estrangeiro. Ao que percebeu, com sua ausência, somente dezenove dos componentes da Guarda Vermelha seguiu com o hatamoto, e uma vez retornando, aquela mancha provavelmente condenaria a carreira do jovem oficial.

 Mas aos olhos de Nobunaga, os vinte esperados compareceram. E agora, impossibilitado de retornar a sua terra, ele nem desconfia que Saisho não seja quem clama ser...

(...)

 Tholen foi sincero em proclamar-se inapto á capitania. Em fato, água em si foi um dos grandes desafios de seu grupo no passado. isso até o anão conseguir uma gema mágica que torna sua armadura capaz de se mover livremente em corpos aquáticos. Aquele abolete - um enorme monstro aquático capaz de controlar mentes e atrair incautos a seus refúgios - aprendera da pior forma, uma vez o anão livre de sua influência.

 Hellen, por sua vez, dava vida ao seu papel de "consultora". Nindrille era a especialista em ocultismo de seu grupo, e mesmo os "feitiços" que ela lançava era um truque sobrenatural. Mas todos os soldados - alvos primários da desconfiança - eram disciplinados o suficiente. Somente no ato da "traição", ela perceberia quem seria o impostor.

 - Anão! - urrou Akashi. - Podemos ir direto à costa ou dar a volta e atracarmos na capital.

 - Direto para a praia. - Tholen decide sem pensar muito. Estavam na proa em meia-lua, mais especificamente onde deveria estar dobrada a rede de pesca.

 - A viagem a pé será longa e desgastante. O glorioso tem preferência por atracar em Akiobara.

 - DIRETO! - urra Tholen, chegando a salivar sobre o rosto do tenente. - Na Torre das Armas, um capitão não dá uma ordem duas vezes!

 - Você não é um capitão! - protesta contido.

 - Ao que me consta... Você querendo evitar o caminho mais adequado é muito suspeito... - Rosna Tholen entre os dentes, quase colando seu rosto no queixo do desafeto. - Eu vou dar uma mijada, e vou estar de olho no sol e nas bússolas. Não quero um grauzinho errado na rota, entendido, Hashishi?

 Tholen deixa seu posto cuspindo injúrias.

 - É Akashi... Youkai peludo maldito... - resmunga inaudível o tenente.

(...)

 Nobunaga postava-se em posição de lótus, e tentava preencher sua mente com seus katar. Mas seus pensamentos eram seguidamente assolados com a possibilidade de estar amaldiçoado. Mais do que não poder voltar a sua terra... Como seu prestígio ficaria afetado em seu reino. Dentre os hatamotos, mesmo Lee Bayushi que lhe tomou o título no Torneio de Jade, o "Dragão Verde" era o mais completo e reconhecido. Nobunaga acabou se levando por isso. Tornando-se perfeccionista. Obcecado.

 Ainda assim, deveria ser uma rocha. Era a estabilidade que o império wenhajin precisaria. Que seus subordinados esperavam dele. Deveria mascarar suas dúvidas e seu ego...

 Mas era difícil mascarar em frente àquela visão.

 Hellen havia trocado-se desde que embarcaram. Escolhera um generoso decote de uma vestimenta élfica, ornado com uma saia de seda, que lhe cobria as pernas, mas eram leves o suficiente para desenhar-lhe a silhueta como se fosse sua própria carne. Seus esvoaçantes cabelos negros estavam amarrados em um rabo-de-cavalo, revelando as linhas de seu pescoço, busto e orelhas.

 - H... Hellen-san? - espanta-se o hatamoto, desguarnecido à surpresa.

 - Espero não estar sendo indelicada, Geen-sama... - fala ela, com voz sussurrante. Mas já entrava, com passos felinos nos aposentos do nobre.

 - Eh, alguma pista? Veio trazer-me informações de seu capitão? Ou do fenômeno? - disparou, tentando apressar a revelação da visita.

 Hellen sorria. A confusão mostrava como abalava o tão disciplinado general. Ela enfim saca o papiro que escreveu na viagem.

 - Ainda temos tempo. Tomei as providências necessárias. - adianta ela. - Mas eu estou diante de uma oportunidade única... Em sua presença... de mostrar a um mestre numa arte tão ... Uma excitante noite de...

 - Pe-perdoe-me, Senhorita.... - Nobunaga dá alguns passos para trás. - Creio que me sinto obrigado a informar que tenho esposa e filhos em minha terra natal... e ...

 - Hai kai... - Hellen quebra gentilmente a cabeça para o lado, com um sorriso maroto. - Poesia...

(...)

 Tholen não avistou a companheira quando desceu ao último tombadilho, onde a dependência sanitária - um buraco que evacuava tudo para o mar - estava. Mas foi bem avistado pelos membros da guarda vermelha ao longo do convés. Sabia que Hellen precisaria começar o contato para sua comunicação pudesse ocorrer. A demora em ter notícias incomodava por demais o anão. Ao ponto de virar os olhos para cima e pensar repetidamente o nome "Hellen" ou sua alcunha racial, como se auxiliasse na comunicação.

 Mal Tholen percebia que "Saisho" da guarda vermelha aproximava-se. O corredor era estreito, e um ligeiro toque era inevitável. O impostor, contudo, pretendia dar uma trombada forte... Provocar o Anão. O fato de ele parecer perdido em pensamentos só facilitava seu intento.

 E os ombros se esbarram com violência, ampliada por uma inoportuna onda que balançou o saveiro. O pequeno guarda vê-se projetado com a reação contra a parede e chega a perder o equilíbrio e cair.

 Aquilo era imprevisto. O espião esfregava freneticamente o ombro, certo que ficaria um hematoma roxo... Mas ainda postou-se no chão vulnerável. Um erro que seria fatal...

 ... Se Tholen sequer percebesse que cruzou com alguém. Não só era mais denso que seu "agressor" e guarnecido com armadura de qualidade anã, como a sua estabilidade racial passou despercebido pelo ataque.

(...)

"Pedir sua amizade

Amigos vem e não vão

Ou não o são"


 Em Wenhajin, a frase formava um hai-ku devido. Cinco caracteres na primeira linha, sete na segunda, e novamente cinco na primeira. A poesia não precisava rimar, mas obedecer a métrica. O desafio era concentrar a sabedoria de uma lição ou de um sentimento no formato.

 - Muito bom... - Nobunaga falava quase academicamente. - O tema "Amizade". Que você pediu quando nos conhecemos... Indica que escreveu para mim, não?

 - Sim. - Baixava as feições envergonhada. - Mas também fiz uma coisa com este verso... Você precisaria ver o...

 - Você desenhou?

 Hellen surpreende-se. Busca o olhar de Nobunaga, e vê que o wenhajin estava com os olhos fechados. Em sua mente, ele montava os kanjis.

 - A primeira letra da primeira linha... e a segunda letra da segunda linha... É a cabeça do dragão. E os sub-vocábulos, um corpo de dragão-serpente, em curva de arco.

 Ela sorri e mostra o papel. Sua demonstração havia sido desmascarada. Realmente para o efeito visual, precisou desalinhar ligeiramente a segunda linha, mas ainda era um Hakai informal válido.

 - Fui pretensiosa em achar que podia surpreender o campeão wenhajin? - ri ela contidamente.

 - Não deve ter sido fácil... - Pondera Nobunaga, aproximando-se. - Precisa de bom domínio do meu idioma, e imagino algumas tentativas. E o resultado é um fenômeno visual, não literal. Ouso dar um parecer?

 - Por favor... - fala Hellen. Estava desguarnecida... Queria ver onde isso seguia.

 - Não preciso dizer que sua beleza está fora dos padrões... - começa. - E o foco de sua poesia é o visual, a apresentação. A mensagem, por bela que seja, é algo já declamado. Eu vejo alguém que tem um belo exterior, física e mentalmente. E gosta de expô-lo... Mas também teme o interior. Labora em sua arte, não simplesmente a produz. Vejo algo escondido, mas ao invés de muralhas, uma distração aos olhos.

 - Não estou certa se foi um elogio... Ou a mais educada crítica que eu já recebi... - fala Hellen. Suaria por estar tão perto, se não fosse tão competente atriz. - Mas devo confessar a inspiração?

 A feiticeira aproxima-se decidida de Nobunaga, e toma suas mãos, descobrindo as mangas amplas do kimono, revelando o antebraço. Dele, uma tatuagem surgia. Um dragão verde que serpenteia pelo braço, e sua cabeça termina nas laterais internas das mãos. O maxilar do lagarto era projetado no polegar e o focinho no indicador.

 - Quando empunha uma espada... - fala ela. - É como se dragões mordessem o cabo. Então as míticas bestas agitam lâminas quando você encontra-se em combate?

 Hellen'ae conseguiu facilmente reverter o confronto. Uma vez descoberta como se aproximar do nobre wenhajin, tocar sua pele e olhar em seus olhos a curta distância, ela o tinha domado...

(...)

 Tholen continuava tentando inutilmente comunicar-se com a aliada, ignorando que ela estava no quarto do hatamoto, imediatamente acima de si. Mas enfim, desperta de seus pensamentos quando algo o atinge no elmo, ressoando com o eco metálico.

 O anão olha para o chão, e vê uma bolota. Uma fruta-semente, redonda e cascuda como um coco, mas pequena em proporções.

 Lentamente, volta-se para a única vivalma naquele nível...

 Saisho, estava parado a sete metros dele. Mesmo se ele tentasse disfarçar - o que não estava propriamente fazendo - seria impossível negar a autoria.

 - Ô moleque... - rosna o rude anão. - Foi você quem atirou isto aqui na minha cabeça?!?

 O impostor não precisava falar. Apenas dá com os ombros casualmente e sacode a cabeça com um riso zombeteiro.

 - Eu já dobrei ogros por menos do que isso, seu borra-botas furta-cor... - ameaça Tholen, agora voltado completamente para o estranho.

 Como consequência da ameaça, o guarda vermelha repete o gesto, e estica as mãos em movimentos circulares, um deboche da guarda de boxe.

 - Ah, você pediu por isso, seu elfo flozô... - Tholen estica o pescoço, para a direita e para a esquerda, estalando-o em ambos os movimentos. Não sacara o martelo ou as machadinhas, como a regra de briga de rua ensina. E enfim, investe em corrida.

 O alvo não se mexeu. Provocou ainda mais, à medida que o anão desembestado se aproximava. Mas enfim, instantes antes dos lutadores colidirem, Tholen sente seu movimento ser amortecido ao longo de seu corpo, mas com o tato no rosto percebe que linhas invisíveis estavam se esticando quando ele passou por um vão. Mal parou completamente a investida, um estalo e sons de equipamento mecânico era ouvido. Uma rede irregular agora içava o anão até o teto do convés da barcaça.

 - Ar, seu covarde e traiçoeiro merdinha do ... - Tholen esforçava-se para se libertar. Mas suas injúrias não vinham à mente na mesma velocidade que as proferiam. O impostor fez alguma troça em Wenhajin. Tholen desconhecia o idioma, mas reconhecia pelo olhar triunfante o significado... E o fato da voz esganiçada quase gargarejar cada sílaba estrangeira reforçava a ideia.

 Como se não pudesse estar pior, o wenhajin espalha um estranho pó sobre uma folha em "V", e aponta para o anão. Em seguida, um sopro competente espalha a nuvem de poeira sobre todo o rosto enfurecido do guerreiro. Seus olhos ardem ligeiramente, e o forte cheiro entra por suas narinas.

 - Hah! - bufa Tholen provocando. - Chama isso de veneno?!? Eu já peidei coisas mais letais que isso!

 - P... Pe-peido mortal! - urra assombrado o impostor. O pó não era venenoso, mas sim um potente anestésico. De qualquer forma, era impressionante o vigor da sua vítima para não cair em torpor. Outro, que não um vigoroso anão, estaria fora de ação.

 - Ah, então fala minha língua, não é?!? - rosna furioso. - Pois então anote minhas palavras: O enterro vai ser caixão fechado, viu? CAIXÃO FECHADO!

 Aquilo não estava nos planos do espião. Preferia a vítima desacordada. Não ousava tentar atacar sua mente... Acreditara no que Hellen proclamou. Mas suas ilusões prévias distrairiam curiosos. Mesmo se gritasse, Tholen não conseguiria alertar a tripulação de sua ação.

 Mas o Anão sequer pensou em pedir ajuda. Não conseguia livrar os braços para alcançar suas armas... Mas lembrou de um de seus pertences: A Bota do Pisão. Era um item mágico que concentrava energias psíquicas. Uma vez acionada - ao todo, três vezes por dia - um cone de cinco metros projetava onda de força pelo solo. Tholen usava contra múltiplos oponentes ou para derrubar inimigos e objetos. Mas desta vez, iria servir na vertical.

 O casco externo e a parede interna do saveiro vibram quando Tholen consegue um chute bem dado gastando uma das cargas. A onda de choque atinge os mecanismos do teto, fazendo-os, para a surpresa do falso Saisho, despencar já quase livre das amarras.

 Uma consequência inesperada ao anão, no entanto, foi que a onda alcançasse o quarto de Nobunaga. Com a vibração, o hatamoto e Hellen'ae são abruptamente separados, jogados um em cada canto.

 - Batemos em algo?!? - exclama confuso Nobunaga.

 - Não... - fala Hellen, recompondo-se e cobrindo seu busto adequadamente. - Reconheço isso. Foi Tholen.

 - O que o capitão fez?!?

 - Ele não era um capitão. Era uma isca... - confessa enfim. - Confio em meu amigo para duas coisas: Se virar em situações arriscadas e sua capacidade de fazer barulho.

 E os dois partem em direção ao convés inferior.

(...)

 Tholen estava sorrindo. Ha algum tempo queria bater em um wenhajin destes... Sequer a possibilidade de estar lidando com um impostor lhe ocorreu. O inimigo jamais se moveu enquanto ele se levantava, com o Flagelo de Gelo já estava na mão.

 Com perícia, o martelo descreve um giro no ar e mergulha na direção do seu alvo. Acerta-o em cheio, com peso e formando uma camada de gelo destrutiva no ponto de impacto... Mas o som que ouve era impróprio... Era o som de metal contra madeira.

 O que parecia ser um corpo, mostra-se um boneco de tronco com as roupas da guarda vermelha.

 Um vulto projetava-se de trás do boneco no instante anterior ao golpe. Ele rola no ar, abrindo espaço entre os dois lutadores. Ele vestia corselete verde com uma fishnete - uma armadura similar à cota leve - por baixo. Seu corpo era tracejado de tatuagens simulando listras de um tigre, e cabelos castanhos espetado completavam a figura. Em sua testa, adornando as feições tradicionais wenhajins, uma pedra losangular. Tholen estranha aquela cor... Recorda-se de ter espantado uma mosca daquela coloração e tamanho quando discutiam com Nobunaga. Mas só via com sua visão periférica.

 - Ah, desgramado... - resmunga o anão, adiantando-se lentamente a novo combate. - Era você que a Hellen estava tentando desmascarar, não é?!? Você estava nos espiando o tempo inteiro...

 - Um po-porco babarulhento que nem vovocê? - ri o espião. Seu melinês era carregado, e a peculiaridade da fala contrastava com a confiança que seu olhar desafiador transmitia. - Fa-fácil dema-mais para "Kyōju no itazura".

 - Com-noju... - torce o nariz Tholen. - Que merda de nome é esse?!?

 - Me-mestre dos T-trotes, seu o-oni incu-culto! - o espião saca um machadinho e uma kunai, uma espécie de adaga metálica de lâmina larga, adequada tanto como ferramenta, arma corpo-a-corpo e de arremesso. - Se-seu opoponente ago-gora é Yuuhi Midiri!

 O intruso pontua atirando a kunai contra o anão. Tholen não tem dificuldade em apará-la com o escudo de ferro com cravos que trazia consigo. A arma fica atrelada em um ornamento, e o desprezo do anão não podia ser maior contra o mínguo ataque do oponente. Ele parecia uma criança nos padrões humanos. Estava certo que bastava encostar nele que a luta estaria acabada.

 Mas seu instinto guerreiro o trai. Ele chega a sentir o cheiro de queimado, mas sequer cogitou haver algum truque na kunai. Quando um discreto pavio acaba, ela explode. Era uma bomba de pequeno poder, e o escudo absorveu quase toda a energia, mas a fumaça e o barulho atordoam o anão.

 - Mu-uito lento! - Com agilidade invejável, Midori abre distância do anão, correndo na direção das escadarias internas. Seu plano era forçar o barbudo inimigo a segui-lo e continuamente cair em armadilhas. Até cogitava se sua suposta invulnerabilidade a efeitos mentais seria um engodo também. Recorda que a fêmea sussurrou algo em um idioma estranho... E martiriza-se por não ter atentado na ocasião.

 Ouvia Tholen recuperando o escudo e pegando velocidade. O plano parecia que iria funcionar... Mas antes de chegar á escada, o ninja percebe que estava com a passagem bloqueada. Nobunaga estava de pé lá, encarando-o com fúria, e as mãos segurando no cabo de suas espadas familiares.

 - Mu-muito rarápido. - estanca a corrida. Sabia que Nobunaga era outro nível de lutador. Prefere dar vez a correr na direção contrária.

 O Samurai entende só o suficiente do que precisava, e parte furioso, logo atrás, e não deixando a desejar a velocidade do espião. Hellen sequer tenta acompanhar os dois. Foi rápido demais para usar seus dons de sugestão em Midori... Mas tinha ao seu lado uma janela boa o suficiente para conseguir passagem. Mesmo sendo uma que desaguava para o mar sem acesso ao tombadilho...

 Tholen sorri maniacamente ao ver seu alvo correndo de volta, e olhando mais para trás - de onde vinha o samurai - do que para frente. Assim, ele para no corredor, ocupando o máximo de espaço possível, e erguendo o martelo acima da cabeça. Quando Midori entrou em seu alcance, o anão desceu a arma num golpe mortal.

 Mas ignorando completamente, o jovem gago troca a postura de corrida por um deslizar. Pequeno, ele passa entre as pernas do anão, surpreendendo-o, e esquivando do ataque, que afunda no assoalho de madeira.

 Tholen ainda estava na inércia da martelada e curva-se completamente. Nobunaga não desacelera também. Simplesmente salta sobre Tholen, apoiando uma mão às costas formes e ligeiramente mais baixas do anão, e segue no encalço de sua preza.

 - Eu ... Odeio... Wenhajins... - resmunga o anão, frustrado. Somando sua velocidade consideravelmente menor e o fato de não estar no embalo, jamais alcançaria qualquer um dos dois. Mesmo assim parte na perseguição.

(...)

 A segunda escada ascendente era determinante na disputa entre o ninja e o samurai, equiparados em velocidade. Eles venceram o primeiro piso sem problemas, mas a escada que dava acesso ao deque superior era mais íngreme e apertada. O mínimo de atraso que Midori tivesse o colocaria no alcance do dai-sho de Nobunaga. Sabia do preparo da missão que aquele era um dos maiores mestres de Yaijutsu de Wen-ha, e uma vez que sentisse confortável com o alcance, aquela lâmina seria projetada da bainha com velocidade e precisão mortais.

 Assim, o gago ousa. Precisou saltar para permanecer na inércia, e fez os gestos de sua magia. Aquele atraso reanima a sede de Nobunaga pelo combate... Mas aos seus olhos, uma porta inesperadamente surge e fecha-se entre os dois. O samurai tenta frear, mas corria a toda a velocidade, e o assoalho de madeira não dava atrito o suficiente.

 Sua providência instintiva viu-se desnecessária. Atravessou aquela ilusão rápida com nenhum dano exceto o coração ligeiramente acelerado. E sua frenagem deu a Midori a vantagem que precisava.

 Alcançou o convés com um salto e guarda armada na defensiva. Olhou ao redor... Só viu três dos membros da guarda vermelha... E todos o ignoravam completamente... Permitiu-se sorrir triunfante. Foi desmascarado, mas não capturado...

 E daquele dia em diante, Yuuhi Midori jamais vai deixar a guarda aberta por um lado inesperado:

 Em cima.

 A sombra alada tardou em denunciar o ataque de rapina. Sentia garras forçar o Fishnet por baixo de suas roupas, e conseguia discernir na ilusão das mãos de Hellen sobre seus ombros as protuberâncias ósseas da ponta dos dedos. Em segundos, estava sendo carregado pelo ar.

 A agitação chama a atenção dos guardas no tombadilho. Nobunaga e Tholen enfim chegam, olhando surpresos para os céus, a feiticeira com asas quirópteras vermelhas voando em círculo com o jovem em seu poder.

 - É me-melhor me la-largar... - ameaça Midori. Ostentava o machado e uma kunai com um pavio aceso em o que parecia ser uma tarja rúnica. Realmente não estava rendido ainda.

 - Quer mesmo que eu te largue, jovenzinho? - fala com ironia na voz. - Olhe para baixo.

 Midori se dá conta que alcançava dezenas de metros em segundos. Mesmo caindo na água, seria um baita tombo.

 Enfim, ele sopra o pavio, e leva as mãos á nuca.

 - Eh... - Tholen conversa desconfortável com o hatamoto. - Creio que quer saber das asas da garota...

 - Ela é uma feiticeira formidável! - exclama assombrado.

 - Bem... Que seja... - rosna aliviado o anão. - quero ser o primeiro a dar um cascudo no pirralho.

(...)

 Midori não se sentia centro das atenções daquela forma ha muito tempo. Em um círculo maior, os dezenove guardas vermelhos com armas desembainhados. Em um menor, os três que o combateram. Hellen cuidadosamente amarrou as mãos, pés e braços do prisioneiro. Apesar das ameaças, Tholen jamais agrediria um rendido... Bem, já o fez uma vez, mas em regra não se valeria de deslealdade.

 Nobunaga quem olhava com certa satisfação. Em momentos de angústia, cogitou que os deuses-dragões teriam expulsado-o das terras sagradas de Wen-ha. Um elemento externo minimizava esta teoria.

 - Fale, prisioneiro... Se presa sua vida. - ameaça o hatamoto.

 - Nobunaga-sama... - Interrompe Hellen. Ela estava atrás do ninja, fiscalizando-o. Midori podia ouvi-la, mas não vê-la. - Ele jamais diria a você quem o mandou.

 O wenhajin estranha a intervenção da feiticeira.

 - Acredite... Eu sei como fazê-lo falar.

 - Creio que um homem honrado como o hatamoto de Son-yohama não iria apelar para a tortura. Jamais o jovem lhe dirá por que ele foi enviado aqui.

 Midori sorri. Mas quem gargalha mesmo é Tholen.

 - Vocês estrangeiros estão loucos?!? - exclama indignado. - Entendo suas ressalvas, mas não na frente do prisioneiro!

 - Ei, moleque... - Ri o anão. - Você nunca iria pensar em um elefante...

 - Um o-o que?!? - estranha Midori. Tal animal era desconhecido em Wen-ha.

 - Perdão, vossa gloriosidade. - fala Tholen com deboche. - Conheço a moça ha muito tempo. Se ela pede que não fale ou não pense... Já está cavoucando a mente da gente...

 - Ouvindo pensamentos superficiais, para ser mais precisa... - corrige Hellen. - É uma manobra psicológica... Eu peguei “Tribo shinobi das Montanhas dos Quatro Rostos”. Capitaneado por Yuuhi Renai. Estou certa?

 Midori agita-se assustado.

 - Isso é tra-tra-trapaça! - protesta. - N-n-não tem o Di-di-direito de fa-fa-...

 - Calma, criança... Midori, não? - fala quase maternal a feiticeira. - Imagino que com preparo, você seria oponente mais que adequado com seus talentos. Mas o peguei com guarda baixa... Como fez com Nobunaga-san por tanto tempo, não?

 - Este marginalzinho meia-pessoa... Ele quem amaldiçoou nossa embarcação?!?

 - Na verdade, não. - fala ela. - Embora talentoso, o nível de poder e descrição para uma persuasão em larga escala está além do pequeno Midori. Mas infiltrado, atento a manobras de despiste como a troca de embarcações, alguém na praia ... O “capitão Renai”, mais precisamente... Eu nem imagino o poder necessário para esse feito.

 - Eu já ouvi falar de um guerreiro das terras do leste. Era tido como grandioso e generoso mesmo com seus inimigos. - fala Nobunaga. - Mas se ele me escolheu como inimigo, por qualquer motivo que seja, aprenderá que eu não sou tão virtuoso quanto ele.

 - Por isso, seria melhor ouvir o "por que". - adianta Hellen.

 - Eh, se posso sugerir... - fala Tholen. - Por mais que eu goste de confissões pessoais, o desgramado gagueja tanto que a gente vai morrer de velhice se esperar seu "de-de-depoimento". Entendo Que Hellen pescou tudo dessa cachola confusa...

 Midori faz uma careta e desvia o olhar. Hellen observa com interesse, e dá razão a seu aliado.

 - Nobunaga-sama... O senhor mencionou que era um homem casado, não? Quando eu fui a seus aposentos

 A indiscrição visivelmente constrangia o samurai. Mas ele assenta com a cabeça.

 - Percebi que honra seus votos e sua esposa... Mas o que pensa de seu sogro... Usagi Heyo, vulgarmente chamado de "Coelho Gordo", imagino...

 - Não tenho o que pensar dele. É meu sogro. pai de minha mulher. É o que importa.

 - Não há laços sanguíneos entre vocês. - fala Hellen. - Não pensaríamos menos se confessasse que seu “sogro coelho” é um tirano com seus servos, e um vizinho complicado aos daimatos menores ao redor dele.

 - Não me cabe julgar. - insiste o espadachim.

 Hellen temia que houvesse alguma ressalva moral de Nobunaga pelo parente legal. Mas felizmente havia a neutralidade necessária.

 - Sei que ele teve muitas filhas, e com elas, conseguiu casamentos vantajosos. Especialmente com o hatamoto. Com tal poder, ele pode ameaçar os daimatos vizinhos, tomando-lhes terras e gado, certo que possuía armas ao seu lado o bastante para rechaçar seus inimigos...

 - I-i-individualmente. - acrescenta Midori, mas sem encarar a feiticeira ou o hatamoto.

 - Uma aliança foi feita. - continua Hellen, após uma respeitável pausa. - Todos os prejudicados pelo “Coelho Gordo” juntaram-se em uma armada capaz de lutar com chances de vitória contra o vilão e seus samurais. Ao menos, com o que ele poderia bancar...

 - Como genro... - deduz Nobunaga. - Eu e meus homens teríamos laços para prestar auxílio.

 - Juntando-se suas forças com as dele, a aliança não teria grandes chances de fazer justiça. Se considerar que como hatamoto, a guarda do próprio Shogun poderia segui-lo... Os revoltosos seriam massacrados.

 - Então, mandam o pivete para matar o general. Cortar uma das maiores forças armadas vassalas ao “coelho”?

 - Co-cogitaram o assa-ssa-sinato. - defendia subitamente Midori. - E a A-a-aliança veio a miminha vi-vila bu-buscar agente ca-ca-apases. M-Mas a-achamos he-hedionda e-e-essa ssosolução.

 - Yuuhi Renai. Um mestre mental da aldeia, decidiu cortar comunicações entre Usagi e Nobunaga. A viagem foi conveniente. - adianta Hellen. - Mas afastar o navio era uma solução temporária... E era questão de tempo até o hatamoto buscar outros meios para chegar a seu lar. Daí, o espião infiltrado. Midori alertava seus líderes de manobras como trocar de navios. Devo deduzir que ele foi além do dever quando suspeitou que Tholen fosse imune à persuasão de Renai, e tentou separá-lo da comitiva. E Eis toda a história, "glorioso".

 Nobunaga vira as costas ao grupo interno. Encara Akashi e seus guardas. Parecia pensativo. Fala enfim, com a voz dura.

- Mas devo crer que mesmo sem ter mais o espião, Yuuhi Renai permanecerá afastando meus navios de minha terra natal...

 - E-enquanto peperdurar a g-guerra de Usagi. - pontua o gago.

 - Mesmo se eu tiver uma moeda de troca? - fala enfim. - O valioso filho deles?

 Midori prende a respiração tenso.

 - Renai não acredita que a vida de um soldado valha qualquer missão. - adianta Hellen, pescando mais um pensamento fugitivo da mente do gago. - O fato de ser o filho dele só reforça este entendimento.

 Nobunaga volta-se firme ao centro do grupo. - Então, eu venci. - proclama enfim. - Prisioneiro, não sei como vocês se comunicam, mas mande seu pai deixar a costa de Wen-ha e abandonar sua vigília. E faça-o prometer que jamais ousará ficar entre Geen Nobunaga e sua terra natal.

 - N-não.

 Midori se posta firme contra o samurai.

 - Me deixe colocar em termos que entenda... - Fala severamente. - Se esta ofensa continuar... O que eu farei com o prisioneiro é o menor dos problemas dele e de sua aldeia. Que se dane meu sogro e a aliança. Eu retornarei um dia... Com ou sem Renai. E não irei ao descanso eterno enquanto não encontrar seu pai, sua aldeia, e todos os que me afrontaram. E os colocarei por terra. Apagarei da história. Eu juro perante o deus dragão Verde... Perante todos os cinco deuses... E os inúmeros deuses gajins. Agora, criança... Vai enviar minhas condições ao seu pai?

 Midori encara o imponente general, mas sua consciência pesa. Tinha orgulho de sua terra natal, e acreditava que as promessas daquele homem amargurado não seriam concluídas... Mas ele era poderoso o bastante para levar conflito aos seus colegas. Haverá guerra. Haverá mortes. Independente do desfecho.

 - Eu... S-só prepreciso estar pe-pe-perto o susuficiente da co-costa papara enviar a memensagem. - fala enfim. - Eu f-farei o que diz.

 - Que treta você nos meteu desta vez, Hellen... - sussurra Tholen.

 - Pss... - repreende a feiticeira. - Não acabou.

 Nobunaga corrige sua postura.

 - Entendo porque seu pai não precisa decidir pela vida ou morte de seus enviados. - fala enfim. - Eles mesmos quem decidem se suas vidas e suas missões são importantes ou não. Chego a invejar tais seguidores... - O assunto parecia resolvido. Passou a tratar de arrumar seu kimono, desalinhado com a correria poucos instantes atrás. - Recomende que seu patriarca arranje alhures atividade para passar seu tempo. Creio que alguém capaz de afastar os inimigos deve ser útil na frente da guerra contra Usagi-sama.

 Midori se espanta.

 - O se-senhor n-não vai i-i-interferir na g-g-guerra?

 - Eu serei obrigado... Se contatado por meu sogro. Mas no estrangeiro, posso ficar incomunicável por semanas... meses até. - O hatamoto encara Hellen por alguns instantes. - Não faço juízo contra meu sogro, mas não sou cego à política de meu reino, senhorita Hellen'ae. Se não há mais força sobrenatural me exilando de meu lar... Isso me basta. Terão minha eterna gratidão.

(...)

 Midori não era o único agente da aldeia além da fronteira de Wen-ha. mas os demais eram meros carteiros. Mas eram ágeis o bastante para alertar o Honrado líder da tribo que haveria uma última tentativa de Nobunaga alcançar as Terras de Wen-ha. E como tal, estava a postos no porto de desembarque. E como sempre, a guerreira estava ao seu lado.

 A gema na testa de Midori, o presente de sua mãe, mais uma vez vence as distâncias e aproxima-se da margem. Aquilo era estranho... Pois Midori adiantou-se ao barco. Podia ser uma mudança de curso, ou alguma manobra dissimulada. O tempo para deslocamento era essencial, pois uma vez ancorados, Nobunaga e a guarda vermelha não retornariam ao mar.

 Mas a mensagem do "Mestre dos Trotes" era outra. Sua descoberta, e a decisão de Nobunaga ... A intervenção dos novos heróis. Com seus talentos únicos, o Líder de campo coçou os bigodes, revivendo os apuros que seu filho passou.

 - Renai? - interrompe Inagami. - Está calado ha tempo demais... O que aconteceu?

 - Creio que... Podemos interromper nossa vigília mais cedo. - pronuncia enfim. - Você vai ter mais um motivo para se orgulhar de seu filho...

(...)

 - Venha com a gente.

 Tholen ficou mais surpreso do que o próprio Nobunaga. com o súbito convite da feiticeira. Ancoraram desta vez no Porto Real de Habênia, e o Ronshi - uma escuna elegante wenhajin - estava aguardando o regresso dos seus senhores. O capitão do saveiro foi pago e liberado, enquanto a guarda transportava a carga entre as duas naves. Tholen e Hellen aguardavam um momento em que Nobunaga estivesse liberado da negociação e preparativos.

 - Ir com vocês.... - segue Nobunaga tentando entender o pensamento da mulher.

 - Eu e Tholen estamos rumando para Oeste. Até o reino de Lyon. Condado de Katzophlis. Será uma jornada de pelo menos dois meses às margens do Rio Janar. Se você ficar na Doravânia ou navegar pelos portos de Meliny, não poderá negar uma carta de Usagi exigindo sua presença na guerra... Mas andarilhos são imprevisíveis. Nosso grupo recentemente foi reduzido... Poderíamos usar um par de espadas... Ou um ladino...

 Hellen desvia o olhar para Midori.

 - Ei! - protesta Tholen. - O moleque é um prisioneiro, não um aliado.

 - Refém político. - continua Hellen. - Ele é a garantia que Nobunaga tem do fim da "maldição" de Renai. Acredita mesmo que cordas e novatos da guarda vermelha iriam deter um ninja?

 - S-só estou e-e-esperando vo-vocês dodormirem... - fala o gago, em desafio.

 - Com todo o respeito, senhorita... - fala o hatamoto. - Minha ausência do reino é tolerada... Mas como apontou bem, a vida de aventuras é perigosa. Porque eu, na altura em que estou minha vida, faria uma coisa dessas?

 - Você não é velho ainda, Nobunaga-sama. - insiste Hellen'ae. - Sei que o dragão tem ânsia de sacar as armas, não viajar em balsas com pessoas a lutarem em seu nome.

 - Esqueça, Hellen. - rosna Tholen. - Ele não tem nem os colhões nem a necessidade de do ouro.

 - "Colhões"...? - estranha o Wenhajin. Ainda mais ao ver Midori gargalhando.

 - É um... Uma forma vulgar de se referir à coragem.- traduz a feiticeira

 - Deduzi. - Emenda o espadachim. - Pois saiba que quando refinava minha arte, me passava por andarilho ronin para não ser incomodado ou ter de lidar com tratamento individualizado.

 - ... E ainda assim não aprendeu a rimar... - goza Tholen.

 - Referi-me á arte da espada! - o rosto de Nobunaga ficava vermelho de afrontado. - Está decidido! Eu vou com vocês.

 - O que?!? - exclama em uníssono Tholen e Midori.

 - De Lyon ou de Genesa consigo naus velozes de volta ao reino em um décimo desse tempo. Se não concluírem a guerra a meu sogro neste ínterim, não será mais problema meu. Caminhei por todos os cantos de Wen-ha... Quero andar pelo resto do mundo agora. E vai ser da forma tradicional. Sei que tenho meu velho sombreiro e a armadura de viagens.

 - Ei! - protesta Midori. - E qu-quanto a mim?!?

 - Eu sou seu captor. - fala Nobunaga, já partindo para o interior da embarcação. - Onde eu for, prisioneiro vai!

 Hellen aplaudia freneticamente seu sucesso. Em seu íntimo, a aliança com Geen Nobunaga era o ideal para seus planos em longo prazo. Mas Tholen demonstra preocupações.

 - Você não vai esconder dele por muito mais tempo... - fala o anão, em seu idioma nativo, certo que apenas Hellen entendia dentre os presentes.

 - Eu conquistarei a confiança dele... Como conquistei a sua. E a de Gunter e Nindrille. - fala ela animada. Igualmente em Anão.

 - Não que eu queira acusar... - insiste. - Ele já falou que é casado. Se está com isso em mente ... Tire o cavalinho da chuva!

 - Oh, Tholen... - ri a feiticeira. - Não sabe que samurais costumam a ter concubinas? Algumas escolhidas pela esposa inclusive! Creio que eu posso ser amiga da "coelhinha"!

 Tholen encara o infante Midori. Ele olhava confuso.

 - Cê não fala anão, né? - resmunga o guerreiro. - Acredite... Não está perdendo nada!

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