sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

[CdL] - Katemaru Gaiden

 Quando os jogadores da Cruzada da Luz se viram ante um fantasma de youkai gato clamando vingança contra a gentil Yoko, em pleno cerco de miasma de Ivanova, tudo tinha indicativos que iriam de mal a pior. Mas o estranho espírito, senhor das ervas e capaz de conjurar bandos de gatos foi pouco mais que um incômodo, e graças a seus talentos, o veneno que acometia Kuroro Daiki e "bola-fora" Nagata foi mitigado. 

Esta é a sua história...





     Nas milenares terras de Wen-há, os clãs youkais dos Cães, Lobos e Raposas guerreiam ha eras com os Gatos e Tigres. Mesmo nos tempos de hoje, intrigas internas nessas duas facções são deixadas de lado sob a menor suspeita da facção inimiga ter qualquer atividade próxima. Não é uma batalha do bem contra o Mal. Malfeitos surgem em ambos os lados das fronteiras, e conceitos tidos como "bons" também.

 As Raposas Brancas costumam estar alheio às guerras. Enquanto os demais grupos são honrados membros de bandos, as Raposas são individualistas e solitárias. Mas ainda assim, haviam escolhido um lado. Um lado contra os Felinos.

 Daimio Kuroro Daiki era um senhor de tradições e severo, mas não intransigente. A jovem e bela raposa branca chamada Yoko o convenceu de suas habilidades e prendas para ser a tutora de sua filha Chansinin, agora que a esposa do senhor feudal tinha falecido e seu filho havia deixado suas terras. Yoko conseguiu conquistar seu lugar nas terras de Daiki, sendo um meio-termo entre as tradições milenares de uma dama que o pai de Asuka-Chan queria que ela fosse e a curiosidade latente da filha do Daimio sobre o mundo que seu irmão partiu para conhecer.

 Até um fatídico dia que ela fez um inimigo para a vida inteira.

 Era uma viagem de compras à cidade de Akiobara. Yoko simplesmente acompanhava Asuka-chan com os mais jovens membros da guarda do daimio, dentre os quais Nagata, um prospecto que treinou com o filho banido do senhor.

 A Raposa gostou de um cheiro doce de perfumes que tomavam as ruas. Seguiu seu faro até uma pequena mas elegante loja herborista, que cuidava mais de um gato gordo e laranja sob o balcão do que prestando atenção nos clientes. Yoko tentou chamar a atenção da senhora no balcão, com sucesso limitado... Mas quando o sonolento gato fixou seu olhar na raposa, tudo mudou.

 O animal saltou assombrado de costas. Nisso, ele cresceu ao tamanho quase de um homem, com quimono púrpuro e cara redonda e bonachona, mas com expressão de horror em seu olhar. "Vocês me acharam!" - berrou ele. - "Não vão me pegar com vida!" - praguejou de novo.

 Yoko sabia da guerra entre as raças, mas não era uma guerreira. Nem mais era um espírito selvagem. Baixou a cabeça, fugindo dos objetos que o gato enlouquecido atirava nela e só saiu incólume porque Nagata e seus companheiros correram para intervir. Mas o ágil e esperto gato escapou dos samurais.

 Após a comoção, o grupo descobriu que muitos anos atrás a viúva que tinha uma pequena banca de ervas medicinais adotou um gato de rua - que agora sabiam que era mais que isso. Ao longo dos anos, o gato secretamente aprendeu o ofício da viúva e superou sua mestra. Mas para manter sua segurança e disfarce, mantinha-a ligeiramente dopada e atendendo aos clientes, enquanto na verdade ele era quem produzia os produtos de alta qualidade. A velha só acordava cansada no fim do dia, via as encomendas prontas ou em produção, deduzia que sua memória estava ficando cansada e ia dormir ou cuidar do bichano.

 O povo resistia a Youkais em sua cidade - mesmo Yoko só era tolerada pela imposição do Daimio. E embora secreta, a relação do Gato a quem a senhora chamou de Katemaru e a herborista foi mutuamente benéfica. O Gato tinha proteção e material para treinar sua arte, e a velha tinha um negociante e artífice mais talentoso que ela jamais seria.

 Mas Katemaru não acreditou que foi apenas uma infeliz coincidência que levou "a inimiga" a seu lar e destruiu seu disfarce. Decidiu que iria se vingar.

 Seu primeiro truque foi uma comichão geral que afetou todos no castelo do Daimio, curiosamente após uma correspondência "informativa" sobre alergias a pelo de raposa ter chegado. Quando o Daimio e Chanzinin - que comiam de panelas diversas do resto do castelo - foram os únicos imunes às alergias, descobriu-se que era o gato maldito com suas ervas. Ele foi caçado pela guarda, mas escapou.

 Outro dia, Nagata encontrou a raposa presa numa gosma estranha e com a boca amordaçada. E o gato no fundo do quarto, prestes a misturar substâncias estranhas. O samurai deu-lhe uma carreira.

 Com os constantes trotes e planos do gato para incriminar a raposa ou incomodar todo o castelo, o Daimio pensou em banir Yoko para se livrar do incômodo, mas o samurai Nagata mostrou que ceder ao gato era uma vergonha ao daimato.

 Armadilhas para gatos foram espalhadas por todas as terras de Daiki uma noite... Na manhã seguinte, em cada uma delas tinha um gato de rua trazido pelo youkai para abrir seu caminho. Yoko só entrava em seus aposentos se Chanzinin ou Nagata vasculhasse o interior antes, e algumas vezes encontraram armadilhas ou o próprio Katemaru lá dentro.

 A perseverança do gato era impressionante. Mas uma vez ele extrapolou.

 Asuka-chan já não morava mais em Daiki. Havia ido estudar no distante reino de Jus. O Daimio decidiu tornar o confiável Nagata seu Daisamurai e investiu em um mestre e em uma arma adequada. O Mestre Butorai da lâmina invisível trazia consigo uma caixa, na qual estava a arma que definiria Nagata... A sua própria Lâmina Invisível.

 Ao abrir a caixa para demonstrá-la ao Daimio, ele perguntou se a bainha e cabo também era invisível. Tateando, o mestre percebeu que a espada havia sido roubada, e debaixo da almofada, encontrou pelos brancos de raposa.

 Os olhos do mestre correram imediatamente para Yoko, mas todos no castelo já anteviram o que havia acontecido. Enfim, Butorai reconheceu ao analisar os pelos que eles haviam sido cortados por uma lâmina, não simplesmente se desprenderam da raposa.

 Por anos, o gato evitou os samurais de Daiki e as pífias tentativas de revide de Yoko, que sem ter que tutorear a filha do Daimio passou a estudar sua magia ancestral para se defender. Mas a ofensa a Butorai foi um erro. O mestre esgrimista era mais obstinado que os "aliados da inimiga". E muito mais implacável. No fim da tarde, o mestre trouxe de volta a espada roubada e o cadáver do gato chato.

 Mesmo tristes com o violento fim, um grande alívio correu nos corredores daquele castelo. Mas não durou.

 O inquieto espírito de Katemaru regressou pouco depois de Butorai e Nagata terem deixado o palácio para o treinamento. Como um espírito, pouco dos limites que ele tinha permaneceram. O Daimio, transbordando de fúria, contratou os maiores exorcistas das terras do Nordeste do reino e enfim capturou o fantasma e prendeu-o em uma joia - para evitar que ele reencarnasse séculos depois e voltasse a atacar Yoko em outra vida, coisa que estavam certos que Katemaru faria.

 E assim permaneceu por muitos anos. A paz voltou a Daiki, ao menos por parte dos problemas do gato.

 Daiki e seu secto deixaram Wen-ha e foram ao Império Áureo confrontar o Filho do Daimio no evento posteriormente chamado de “Cruzada da Luz”, batalha para a qual Nagata treinou a vida inteira. Mas nesta viagem, os antagonistas se viram todos presos por uma força maior, e se viram obrigados a se unirem contra a Bruxa da Vingança. Buscando reunir armas contra a inimiga, os novos aliados inadvertidamente libertaram o fantasma de Katemaru, que partiu imediatamente para sua vingança pessoal.

 A visão do gato gordo espectral trouxe de volta emoções reprimidas de medo e vergonha em Yoko, lembranças que ela julgava terem acabado, e a infeliz raposa branca buscou proteção de seus aliados... Um deles, um Felítrius - raça de homens-gato do mundo exterior. Aquilo provocou um ataque de gargalhadas em Katemaru.

 Aparentemente, ver sua inimiga se abrigando com um "gato" era uma humilhação digna das que ele por tantos anos, além da vida e da morte, tentou impor à raposa orgulhosa. Não só o gato se deu por satisfeito em sua vingança como mais à frente ele foi essencial para a sobrevivência do Daimio e Nagata de um dos ataques da bruxa.

 Com o fim da ameaça maior e do objetivo que prendia Katemaru no mundo dos vivos, toda aquela experiência pode ser repensada pelo Gato e pela Raposa. A desproporcionalidade da reação de um lado, e o orgulho de jamais ter se sentido mal por ter arruinado a vida do gato. Carmicamente falando, os inimigos fizeram as pazes e se compreenderam. Uma paz inédita na história das duas facções. Uma paz digna de um último prêmio dos deuses wenhajins.

 Yoko e Nagata romperam com as convenções e assumiram um romance que sentiam e reprimiam a anos. Em um ano, a Raposa estava para ter filhos gêmeos meio-youkais do daisamurai. Mas no dia do nascimento das crianças, alguém bateu à porta. Ninguém viu quem era, só que deixaram na sacada uma cesta de vime, com um terceiro bebê nela. Um bebe youkai-gato.

 O novo Katemaru cresceu como filho do casal, irmão dos meio-youkais Kami e Kamlyn. Era o mais inteligente e temperado do bando, embora relutantemente sempre entrando na travessura das crianças. Era uma inusitada família, com um igualmente inusitado destino.

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